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2. DEFINIÇÃO DA ESCALA

Sendo o Brasil um País de dimensões continentais, os impactos ENSO se dão de maneira diferenciada. Segundo os padrões espaciais, temporais e semânticos, em épocas de ocorrência do El Niño os riscos a desastre ENSO são diferentes para cada uma das grandes regiões administrativas do território Nacional. Em termos de tipologia (domínio semântico), segundo o CEPET/INPE os estudos indicam que principalmente três regiões no Brasil --- semi-árido do Nordeste, norte e leste da Amazônia, sul do Brasil e vizinhanças são afetadas de maneira pronunciada pelas mudanças na circulação atmosférica durante episódios de El Niño. A Região Sul do Brasil é afetada por aumento de precipitação, ocorrendo chuvas torrenciais, que causam grandes desastres relacionados com inundações, deslizamentos, etc., particularmente durante a primavera no primeiro ano e posteriormente o fim do outono e início do inverno no segundo ano. O norte e o leste da Amazônia e o Nordeste do Brasil são afetados pela diminuição da precipitação, principalmente, no último, entre fevereiro e maio, quando se tem a estação chuvosa do semi-árido. São freqüentes os incêndios florestais na região Amazônica Legal. O Sudeste do Brasil apresenta temperaturas mais altas, tornando o inverno mais ameno. Já para as demais regiões do país os efeitos são menos pronunciados e variam de um episódio para o outro. Mas, onde o evento ENSO causa mais danos é na região semi-árida do Nordeste Brasileiro, onde ocorrem as secas prolongadas com grandes perdas econômicas e um afetamento social muito grande da população carente de quase 18 milhões de pessoas. Cai desastrosamente o nível do emprego rural e urbano. Famílias inteiras abandonam suas terras e/ou as vendem por um valor muito aquém do real, e são forçadas a migrar para centros urbanos maiores em busca da sobrevivência. Em épocas de La Niña, há uma inversão do que ocorre com o EL NIÑO. Assim, todos estes desastres têm efeitos sociais e econômicos diretos na economia do País.

Chuvas excessivas no sul do Brasil, secas em partes da Amazônia e inverno quente no Sudeste do Brasil, e as temperaturas muito altas de início de verão no Sul , Sudeste e Centro-Oeste foram as principais características do intenso episódio El Niño em 1997. Para as regiões Norte e Nordeste foram os longos períodos de estiagem que caracterizaram o El NIÑO de 97/98. A cidade de Recife com cerca de 3 milhões de pessoa em sua área metropolitana, entrou em colapso no abastecimento de água com um rígido racionamento. O mesmo ocorreu com as cidades de João Pessoa e Campina Grande. Tanto em João Pessoa como em Recife, o enfrentamento da longa estiagem pode em parte ser minorado, devido às perfurações de poços profundos, nos sedimentos Terciários. Porém, na cidade de Campina Grande, por estar sobre rochas cristalinas pré-cambrianas, a solução em busca de água com perfuração de poços profundos não teve êxito praticamente, visto que além da água armazenada nas fraturas das rochas cristalinas ser pouca, a sua qualidade nem sempre é boa para o consumo humano, devido a sua salinização.

Com base na análise dos dados sócio-econômicos e dos riscos a desastres associados ao efeito ENSO, e tomando por base à dimensão continental do Brasil, verificou-se que o Nordeste brasileiro é a região que mais tem sofrido com os efeitos das mudanças climáticas globais, principalmente em épocas de forte atuação do efeito ENSO. A análise regional dos nove estados que compõem a região Nordeste, aponta os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco e parte do Estado do Piauí, como os estados que mais sentem os efeitos das mudanças climáticas, que em épocas de EL NIÑO, são caracterizadas pelo longo desastre da seca, com grandes perdas econômicas da agricultura, e efeitos diretos sobre as populações rurais empobrecidas, motivando mortes, principalmente entre as crianças, por desnutrição/desidratação, raquitismos, por falta de ingestão de uma alimentação adequada ao desenvolvimento humano, como também o aparecimentos de doenças, que podem ou não se caracterizar como epidêmicas, pois a população, pela baixa ingestão calórica e vitamínica, torna-se mais vulnerável, pela menor resistência do organismo a contaminações.


Descendo mais na escala, dentre estes quatro estados, o estado da Paraíba, que tem uma porção significativa dentro da região semi-árida e é um dos que apresenta o menor índice de desenvolvimento econômico, e conseqüentemente com o maior número de pobres e miseráveis. Como resultado desta análise, o Estado da Paraíba foi eleito como a área teste dos estudos do presente projeto.

Em uma análise mais detalhada das condições sócio-econômicas da Paraíba, verifica-se que estas têm um relacionamento direto com a divisão edafo-climática do estado, em suas três principais regiões: Zona da Mata e Agreste - as áreas mais úmidas e mais desenvolvidas sócio-economicamente; a Zona do Cariri-Curimataú (zona central do estado), que pode ser considerada a mais pobre do estado, e a que mais sofre com os efeitos ENSO; a Zona Sertaneja (zona centro-oeste), que também apresenta um índice grande de pobreza e miserabilidade, porém encontra-se em segundo lugar no desenvolvimento sócio-econômico do estado. Dessa maneira, as zonas Sertaneja e Cariri-Curimataú foram escolhidas para este estudo e dentro destas duas zonas foram eleitas as seguintes áreas para a pesquisa comparativa dos efeitos ENSO:

Tabela 1 - CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA D GAUSSEN

Tipo Climático

Característica

2b Sub-desértico quente de caráter tropical. Índices xerotérmicos variando de 200 a 300 e estação seca de 9 a 11 meses.
4aTh Termoxeroquimênico acentuado (tropical quente de seca acentuada). Índices xerotérmicos variando de 150 a 200 e estação seca longa de 7 a 8 meses
3bTh Termomediterrâneo (Mediterrâneo quente ou nordestino de seca média). Índices xerotérmicos variando de 100 a 150 e estação seca de 5 a 7 meses.
FONTE: Brasil (1972)


Os elementos climáticos dessa microrregião são mostrados na tabela 1.

Tabela 1- ELEMENTOS CLIMÁTICOS DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM
À ÁREA DE ESTUDO

Município

Precipitação Média Anual (mm)

Temperatura Nédia Anual
(oC)

Evapotranspiração Média Anual
(mm)

Deficiência Hídrica Média Anual
(mm)

Índice Hídrico
de Thorntwait
(Im)

PICUÍ 335,5 26,5 1.660,0 1.324,5 -47,0
FREI MARTINHO 400,0 26,5 1.550,0 1.130,0 -50,0
NOVA PALMEIRA 385,0 26,0 1.429,0 971,0 -40,0

FONTE: FIPLAN (1980).


De acordo com a classificação de Gaussen, o clima da região é do tipo 4aTh (tropical quente de seca acentuada), termoxeroquimênico de caráter acentuado e apresenta um índice xerotérmico entre 150 e 200.

Os elementos climáticos dessa microrregião são mostrados na tabela 2.

Tabela 2- ELEMENTOS CLIMÁTICOS DA REGIÃO DO ALTO RIO SUCURU

Precipitação Média Anual
(mm)

Temperatura Nédia Anual
(oC)

Evapotranspiração Média Anual
(mm)

Deficiência Hídrica Média Anual
(mm)

Índice Hídrico
de Thorntwait
(Im)

550

24

2900

2350

-47,0

FONTE: FIPLAN (1980).


Pela Classificação Bioclimática de Gaussen o clima da área é do tipo termoxeroquimênico acentuado (tropical quente de seca acentuada) - 4aTh, com estação seca longa, de 7 a 8 meses e o índice xerotérmico que indica o número de dias biologicamente secos, está compreendido entre 150 e 200 (Brasil, 1972).

Tabela 2- ELEMENTOS CLIMÁTICOS DA REGIÃO DA BAIXADA
DE SOUSA

Precipitação Média Anual
(mm)

Temperatura Nédia Anual
(oC)

Evapotranspiração Média Anual
(mm)

Deficiência Hídrica Média Anual
(mm)

Índice Hídrico
de Thorntwait
(Im)

400- 1.036

27,9

1500

800

-40,0

FONTE: Paraíba, 1980.